O que é Diagnóstico Participativo?

O diagnóstico participativo, compreendido como conjunto de técnicas e ferramentas que permite que as comunidades façam o seu próprio diagnóstico e a partir daí comecem a autogerenciar o seu planejamento e desenvolvimento (VERDEJO, 2006), surge como uma estratégia fundamental para que os agricultores familiares possam compreender as relações sociais, econômicas e institucionais que determinam seus limitantes para o desenvolvimento sustentável.
A participação consiste na vivência coletiva e não na vivência de cada indivíduo. A reflexão comunitária da prática participativa constitui o momento culminante e desencadeador do processo educativo. Para Gutiérrez (1993, p.29), a educação é uma ação transformadora e consciente que supõe dois momentos inseparáveis: o da reflexão e o da ação.
A partir de um propósito de mudança na construção de projetos coletivos em que diversas organizações devem estar envolvidas, o DP é um caminho, tecnicamente construído, para estimular e apoiar pessoas e instituições a construir um autoconhecimento, saber coletivo e envolvimento dos beneficiários.

É um processo de facilitação a fim de que eles possam, num espaço de tempo significativo, investigar, analisar e avaliar seus obstáculos e chances de desenvolvimento local, assim como, abrir canais de tomada de decisões fundamentais relacionadas aos projetos a seu respeito, consorciadas ao cumprimento de seus propósitos comuns.

Com isto, podemos entender que, quando a comunidade reflete sobre casos concretos da problemática organizativa e produtiva de seu dia-a-dia, ela achará, gestionariamente, as melhores e mais adequadas soluções para estes problemas. Esta participação conduz à gestão, pelos próprios interessados, tanto dos processo produtivo como no processo organizacional. Na aprendizagem da participação, o aprendiz fica sabendo como detectar tentativas de manipulação bem como a “distinguir a verdadeira participação da simples consulta ao povo” (BORDENAVE, 1994, p.73).

A ação deve ter um caráter instrumental para que as próprias comunidades tradicionais possuam e dominem os conhecimentos, habilidades e atitudes que lhes permitam assumir a responsabilidade do seu próprio desenvolvimento de forma autogestionária e autodependente (LACKI, 1996, p.155).

Ao se fazer o diagnóstico participativo sobre uma comunidade, o que se está buscando é a geração de informações e conhecimentos necessários para a identificação dos problemas e necessidades enfrentadas pelo grupo comunitário.
Num momento inicial, o diagnóstico participativo é um processo contínuo que gera um conhecimento que se enriquece na medida em que a realidade se transforma (GUTIÉRREZ, 1993, p.31).

Em um segundo momento, o diagnóstico participativo objetivará as prioridades, bem como identificará os recursos (humanos e financeiros) para sua consecução, formulando quais os objetivos das ações. O terceiro passo, é Quando envolvemos os beneficiários no processo de pesquisa, estamos proporcionando a objetivação de necessidades sentidas, bem como de necessidades reais não sentidas. O próximo passo é determinar como cada um dos problemas serão abordados.

Para agir sobre uma realidade é preciso conhecê-la e, para que isto ocorra é preciso que nós a estudemos ao mesmo tempo em que deve ser dada ao grupo estudado a oportunidade de conhecer suas percepções, seus valores suas crenças, bem como seus temores e aspirações para o futuro. Desta maneira, a própria comunidade, organizadamente, poderá levantar os dados necessários para conhecer sua realidade. Quando envolvemos os beneficiários no processo de pesquisa, estamos proporcionando a objetivação de necessidades sentidas, bem como de necessidades reais não sentidas. Os conteúdos da pesquisa podem incluir a comunidade de uma forma global, a estrutura sócio-econômica, os componentes da cultura vivida, os grupos organizados e as associações, as relações formais e informais entre membros da comunidade, seus problemas etc.

DP é aplicado em:

· verificação de necessidades (felt needs);

· definição de prioridades para ações de desenvolvimento (Exploratory RRA);

· campo de estudos de viabilidade (“feasibility studies”);

· fases de implementação de projetos;

· campo de monitoramento e avaliação de projetos;

· levantamentos sobre temas específicos (Topical RRA - Rural Rapid Appraisal);

· focalização de questões significativas em levantamentos formais (surveys);

· identificação de interesses conflitantes entre grupos;

É utilizado nas seguintes áreas:

· Gestão de recursos naturais (conservação de solos, mananciais, nascentes etc., agrossilvicultura integrada, pescaria, gestão de reservas naturais, florestas nacionais e APAs, etc.);

· Agricultura (fruticultura e criação de animais, irrigação, mercados etc.);

· Programas em questões igualitárias (mulheres, demanda por crédito, identificação dos mais pobres, medidas para geração e complementação de renda etc.);

· Nutrição, saúde e educação (programas de saúde básica e segurança alimentar, abastecimento de água etc.);

· Planejamento de planos municipais de desenvolvimento rural;

· Avaliação de projetos de assentamentos rurais;· Avaliação de projetos sócio-ambientais de empresas;

· Delimitação e confecção dos projetos de educação;· construção e implantação das Agendas 21;


Pressupostos especiais para o PRA (Participative Rapid Appraisal), o posicionamento do pesquisador externo face ao (à):

· espírito de participação ( aprender das e com as pessoas);

· respeito para com as pessoas, com quem se está trabalhando;

· interesse naquilo que eles sabem, falam, mostram e fazem;

· auto-orientação nos reflexos e resultados (a não resposta também é uma resposta);

· explicitação dos interesses, objetivos e “sonhos”;

· capacidade particular de prestar atenção e ter paciência;

· verdadeira humildade a respeito do seu próprio conhecimento;

· reconhecer que o conhecimento técnico é apenas uma forma do conhecimento;

· “ferramentas” que encorajam os participantes da comunidade a expor, ampliar e analisar o seu saber.

Referências:

BORDENAVE. A participação. Editora Brasiliense, São Paulo, 84 páginas.

GUTIÉRREZ, F. Educação comunitária e desenvolvimento sócio-político. Educação comunitária e Economia popular. Cortez Editora, São Paulo, 1993, p. 23-33.

LACKI, P. Desenvolvimento agropecuário: da dependência ao protagonismo do agricultor. Banco do Nordeste do Brasil/FAO- escritório regional, Fortaleza, 1996, 160 p.

VERDEJO, M. E. Guia prático: DRP. Brasília: Gráfica ASCAR, 2006. 61p.